Insights

Os impactos da COVID-19 no setor do turismo

No início de março, as notícias vindas de algumas de nossas afiliadas da Europa e da Ásia já vislumbravam o nosso futuro aqui, no Novo Mundo. Então, nós criamos imediatamente um comitê de crise e começamos a nos organizar a fim de preparar a 3AW para um período de home office. Em menos de 10 dias, iniciamos um período de teste com a maioria de nossos colaboradores. No dia 18 de março, já estávamos todos em home office. Mesmo assim a quarentena foi inevitável, o que era uma orientação tornou-se uma obrigatoriedade em todos os segmentos não essenciais. De um dia para o outro, estávamos todos em casa. Com isso, levamos todos os planos que tínhamos para um futuro próximo: férias, casamentos, reuniões, viagens, enfim sonhos... 

A crua realidade que estava ocorrendo do outro lado do Atlântico começou a fazer parte do nosso dia a dia. Os governos de muitos países restringiram a entrada de estrangeiros em seus territórios com o fechamento das fronteiras, o que obrigou o adiamento das viagens. Inicialmente, o setor que sofreu o maior impacto dos efeitos da pandemia foi o de turismo. As imagens de cidades turísticas inteiras vazias, o espaço aéreo fechado na maior parte do mundo e as rodovias desertas davam a dimensão do impacto gigantesco que o novo coronavírus trouxe para o turismo.

Neste ano de 2020, estávamos com passagens compradas para o Congresso Mundial da 3AW, que aconteceria em junho, na cidade de Budapeste. Até meados de abril, ainda supríamos a esperança de uma solução rápida para o término do isolamento social e o retorno das atividades com o tão falado “novo normal”. Enquanto isso não acontecia e as pessoas diziam que não pretendiam voltar a viajar tão cedo, percebemos que a situação ficava ainda mais grave. 

Em pesquisa realizada pela Opinion Box, apenas 8% pretendem viajar a lazer nos próximos 3 meses, 12% pretendem viajar a trabalho, 42% pretendem fazer viagens de turismo apenas a partir do próximo ano, enquanto 18% não sabem responder quando vão se sentir seguros para viajar de novo. Por outro lado, 41% pretendem entrar em um avião ainda neste ano, enquanto 52% pretendem viajar de ônibus. Em relação a viajar de carro, as pessoas se sentem mais tranquilas, por isso 62% acreditam que devem pegar a estrada ainda em 2020. Porém, nos próximos 3 meses, apenas 7% se veem fazendo uma reserva em hotel, resort ou por meio de aplicativos, como Airbnb, enquanto 8% se veem fazendo uma reserva em pousada ou albergue. Em todos os casos, mais de 40% acham que só voltam a se hospedar em alguma dessas acomodações a partir do ano que vem. Em geral, há um número muito grande de pessoas que não sabem quando pretendem voltar a viajar, o que mostra a imprevisibilidade de todo este cenário em que estamos vivendo. 

Neste contexto, os principais fatores que fariam as pessoas se sentirem mais seguras para viajar novamente são: uma vacina ou um remédio contra a COVID-19. As novas regras de higiene e saúde, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, a restrição de pessoas com sintomas de doença no local e o controle de temperatura, também fariam com que uma parcela significativa de viajantes voltasse a circular. 

Os dados não são animadores tanto para as pessoas que trabalham no setor quanto para as que esperam uma retomada mais rápida das atividades. É preciso estar preparado, pois tudo indica que será um processo lento e gradual. Confiança é a palavra-chave para o setor de Turismo, para que a retomada aconteça da melhor maneira possível. Este é o momento de todos os players do setor trabalharem juntos em prol de um futuro que garanta a sobrevivência do Turismo. De que adianta um hotel ter selo de segurança e garantir ambientes higienizados para hóspedes, se no caminho até ele há etapas inseguras? Precisamos confiar em toda a jornada e, para isso, todos nós temos de estar juntos nessa.

Esta credibilidade de todos os elos da cadeia produtiva é a que o viajante necessita para retornar a sonhar. Segundo um amplo estudo realizado pela FGV Projetos sobre os diversos segmentos do setor, como hotéis, pousadas, bares, restaurantes, transportes rodoviário e aéreo, serviços auxiliares ao transporte, agências e organizadores de viagens, aluguel de bens móveis, atividades recreativas, culturais e desportivas, o cenário do impacto da COVID-19 no Turismo divide-se em 6 fases: 

- O Isolamento, a fase que estamos experimentando agora; 
- A Reabertura da Economia, a que deve começar no início de junho de 2020; 
- A Estabilização do Turismo Doméstico, que deve acontecer entre 20 de outubro de 2020 e 21 de janeiro de 2021; 
- A Estabilização do Turismo de Negócios e Eventos, que deve ocorrer de 21 de fevereiro de 2021 a 21 de junho de 2021; 
- A Estabilização do Turismo Internacional, de 21 de julho de 2021 a 21 de novembro de 2021; 
- E a Recuperação do setor, que deve ocorrer a partir do fim de novembro de 2021. 

 

Calcula-se que a perda econômica no período gire em torno dos R$ 116,7 bilhões. O impacto da pandemia no setor de aviação no Brasil está sendo tão intenso que o mercado só deve recuperar o índice de passageiros pré-coronavírus em 2023. É o que estima o presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier em recente entrevista ao G1. 

Em abril e maio, empresas aéreas chegaram a reduzir em 95% a oferta de voos, por causa da pandemia. E os voos corporativos, que chegavam a representar 50% do faturamento de empresas aéreas, podem recuar de forma permanente, por causa da adaptação das empresas às reuniões virtuais. Isto significa que, mesmo após o fim do período de isolamento social, as pessoas seguirão viajando menos a trabalho e turismo.  

Vale ressaltar que medidas urgentes precisam ser tomadas para que o impacto não seja ainda mais significativo e o setor esteja saudável durante os períodos de estabilização e recuperação, aliviando a pressão operacional e salvando empregos.

Para que o setor tenha capacidade de reação, algumas medidas, como o auxílio do Poder Público, o reequilíbrio dos contratos de concessões, a atenção especial às micro e pequenas empresas do setor, o redirecionamento de recursos para o turismo doméstico e o crédito ao consumidor com condições atrativas, são fundamentais. A regra básica para a superação de uma crise como esta, que foge ao controle das empresas, é fazer o replanejamento de retorno aos negócios o quanto antes e manter contato com o consumidor. 

Os clientes também precisam de ajuda e informações, pois, mesmo em isolamento, eles ainda sonham com lugares para os quais desejam viajar, assim que for possível. Depois de tanto tempo em isolamento, sem o contato entre as pessoas, com a natureza e o ar livre, o fim da quarentena vai trazer um desejo de reexplorar o mundo, mas, com a crise econômica que muitos brasileiros enfrentarão, faremos viagens mais curtas e para destinos mais econômicos. Agora mais do que nunca, as viagens serão mais planejadas e cronometradas, uma vez que elas tenderão a diminuir no início da retomada. Além disso, todos os deslocamentos, referentes às viagens e ao cotidiano, passarão por cuidados de manutenção da higiene para diminuir os riscos de contaminação. Aquele oriental de máscara que víamos nos aeroportos do mundo seremos nós.